11.10.06

um prémio para quem lê este blog...

quando o tempo não dá para mais... o roubo é a solução...
fica a ganhar o leitor!!

esta bonita sequência de letras foi escrita pela blogger aposentada KN na sua extinta incrível mesazul.
gosto
muito!





Narcisa

Narcisa levantou-se numa manhã como as outras e tomou o seu pequeno almoço calmamente na companhia do ego, alter-ego e super-ego, os seus três melhores amigos. Conversaram longa e prazenteiramente sobre as suas vidas, os seus problemas, os seus planos para o futuro e as recordações do passado...enfim, os temas do costume... e sairam para passear junto ao lago.

O caminho que levava ao lago era bonito e misterioso. Como todos os caminhos das histórias inventadas, que levam a algum lugar que interesse, também este tinha árvores seculares com grandes olhos resinosos e cicatrizes de corações "i love you" e "vanessa e venâncio forever" no tronco, que testemunhavam a passagem dos montros dos canivetes suiços que costumavam dar longos passeios ao domingo por aqueles lados. Mas Narcisa e os seus Ego-friends não reparavam nestas coisas que vos conto. Na verdade não creio que tenham algum dia reparado no caminho que trilhavam. Faziam-no automaticamente, perdidos nos seus próprios pensamentos e mundos imaginários.

Narcisa gostava de ir ao lago. Gostava da companhia dos seus três amigos. Gostava de muitas coisas. Gostava das 3532 coisas que já tinha na sua lista de coisas preferidas e de mais algumas que ainda não tinha tido tempo para escrever.

N.A - Por respeito aos leitores optámos por não enumerar essa lista, mas ficaram com uma ideia...

Mas não nos dispersemos da nossa história: exceptuando nas histórias infantis pré-óó em que a prolixidade é rainha-mãe, o sintetismo impõe-se nestes nossos tempos de eternos "para ontens"!

Narcisa e os seus três mosqueteiros chegaram por fim ao lago. Era um lago redondo, negro e sem vida. Sem demoras, sentaram-se os quatro na berma do lago, pernas dobradas, joelhos no chão, calcanhares no rabo e assim ficaram muito quietos. Entre a luz intensa do sol e a escuridão profunda da água, só o reflexo encantador dos seus rostos parecia existir. Eles estavam sozinhos, estavam sempre sozinhos naquele lago. Sempre, de todas as vezes. Mas essa situação não lhes era estranha e nunca se questionaram sobre isso.

Há pouco disse-vos que aquele era um lago sem vida. Na verdade, menti... era um lago QUASE sem vida. Qual druida gaulês exilado num mundo de romanos, vivia naquele lago um monstro muito grande e misterioso chamado ALTRO. Pouca gente o tinha visto, mas havia relatos e descrições terríveis de seres que eram condenados a viver em mundos sem espelhos e sem reflexos! Os nossos quatro amigos pensavam muitas vezes nisso, em como seria um mundo assim... e única resposta que obtinham era uma infindável escuridão. Uma infindável e aterradora escuridão. Só. Não era uma ideia bonita.

Mas não é à toa que vos revelo este pequeno detalhe. É que, ainda as suas pupilas dilatavam sob o efeito da luminosidade das suas doces reflexões (sim, ambas: físicas e mentais), ALTRO surgiu...

E... com a rapidez de um Carl Lewis em overdose de dopping, engoliu os três amigos de um só trago. A pobre Narcisa, privada dos seus amigos e cega pela luz ofuscante da própria imagem, num rodopio desiquilibrado de espanto caiu dentro da água e sentiu o peso do próprio corpo a puxá-la mais e mais para o fundo (será que tinha fundo?!) daquele mundo negro. Mas durante o tempo que demorava aquela descida ao inferno, Narcisa esboçava um sorriso e todo o seu corpo se abandonava tranquilo àquela triste inevitabilidade.

Porque quando, abandonada a si mesma, Narcisa rodopiou e afastou os olhos da sua imagem e caiu de costas na água, pôde ver que um imenso céu azul cobria o mundo todo, um céu que ela nunca tinha visto antes...e que muitas pessoas surgiam vindas de todo o lago...pessoas que não estavam lá quando Narcisa olhou...e as pessoas eram belas, muito belas...e o céu era belo...e as árvores e as cores...e a água que aumentava por cima dela era bela... e Narcisa sentiu-se afundar numa longa tela de paz...

Narcisa desceu feliz porque percebeu que a beleza do mundo não morria com ela.

2 Comments:

Anonymous Anónimo a dit...

Obrigada!!!! :))

Mrs. Dalloway

12.10.06  
Blogger a. a dit...

:D

12.10.06  

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